"Em grande oh Avó! Que clareza de ideias... Todos atacassem os problemas com a rectidão escatológica com que tu, oh Avó, o fazes. Aproveitando a deixa, deixa que te questione acerca de algo que me tem vindo a dar que pensar. O meu colega de apartamento até é um bom rapazola. Tirando um ou outro pormenor estético nada lhe tenho a apontar. Excepção seja feita a dois comportamentos, tribais (?) que, de forma não pouco convicta, insiste em continuar a ter. Ora, o referido sujeito insiste em passar horas seguidas a escutar, como que em transe a mesma batida (musical?). Não fosse a dita batida sempre igual, ainda uma pessoa não dava por nada... já assim torna-se incomodativo e gerador de vontades segregadoras do mesmo. Para além disto, oh Avó, o mesmo tipo insiste em praticar durante a cópula com a respectiva consorte tribal, grunhidos que se ouvem pela casa toda e que não são, de todo em todo, associáveis ao acto copular que tanto nos fascina. Ora, é bom de ver que o status quo que aqui relato, em nada é propício ao fomento das relações de vizinhança nas sociedade hodiernas. Não te parece, oh Avó?Diz-me agora de tua justiça. Que pode um pobre residente meeiro perante tal desafio fazer? Mas reitero-te, oh Avó, eu até gosto do moço...Um abraço,Zé CarlosP.S. Na senda da dúvida que aqui te deixo, oh Avó, interpelo-te no sentido de implementares um consultório informal de apoio a problemas tão prosáicos como este."
Zé Carlos, in comentário ao Disfuncionalismo público
Mais uma vez, o Avó é chamado a dirimir conflitos. Gosto. Ora, o que sucede? O nosso amigo Zé Carlos vive atormentado por um problema que, diga-se, é um problema do caralho. Não no sentido tradicional do termo (entenda-se, problema irresolúvel), mas “problema do caralho” porque é, efectivamente, um problema que se prende com a existência de um determinado caralho que, no desempenho da sua função fodilhona, origina uivos e peidinhos-de-cona audíveis de Santa Apolónia à Rua Sésamo.
Antes de mais, não é despiciendo relembrar o quão agradável esta situação se pode revelar, mormente, se nos apetecer uma bela punheta e, enfim, o canal televisivo das situações pinâncias estiver codificado. As minhas punhetas mais deliciosas ocorrem quando os meus vizinhos do andar de cima decidem rebentar um com o outro à piçada-conada – os guinchos histéricos dela e os rugidos animalescos dele quase que evocam uma Odisseia épica. A mesma situação pode vir a revelar-se extremamente útil quando, por exemplo, levamos visitas importantes a casa. Todos nós podemos imaginar os momentos divertidos que um violento arfar vindo de um quarto fechado pode proporcionar: os sorrisos dissimulados, a troca de olhares cúmplices, o humedecimento por simpatia, etc.. E se o dito ruído vier acompanhado de um cheiro a bafio, tanto melhor. O mais provável é que alguém se lembre “E porque é que não nos juntamos à festarola e vamos todos foder que nem cães desvairados?”. Zé, se os grunhidos do teu co-locatário são ou não “associáveis ao acto de copular”, já estou como o outro: “Foda é foda, quer te fodas, quer me foda!”. Por outro lado, é meu dever elucidar o Zé Carlos para a situação potencialmente geradora de lucro em que toda esta devassidão se pode tornar. Zé, tens uma câmara de filmar? Tens Internet? Do I need to say more? Há sempre um qualquer atrasado mental num qualquer ponto do mundo que estará disposto a pagar balúrdios para ver um casal de Neandertais a debulharem-se à moda antiga. Pelo menos, eu pagaria... Mas aqui o nosso amigo Zé Carlos sente-se incomodado. E eu estou solidário. Nestas ocasiões, gosto de relembrar o meu avô e o seu provérbio preferido: “Haja língua para lamber e dedos para coçar!”. Sim, eu sei – este adágio não é propriamente o mais ajustado ao contexto, mas é sempre um bom provérbio para ser recordado. Mas o meu avô diz mais: “Amigos, amigos, anda cá que eu já te digo!”.
Então, como solucionar o problema deste nosso amiguito?
Solução n.º 1: Assim de repente, e sem tomar balanço, lembro-me, por exemplo, de ter visto um documentário televisivo, na SIC, sobre animais perigosos... Hehe... Isto faz-me rir... Bom, o mencionado programa referia uma espécie de peixe (ou lá o que caralho era aquela merda) que tinha a mania de se introduzir na uretra de um gajo, onde se acomodava e fixava, usando, para o efeito, espinhos. Não deve doer nada. Todavia, esta é uma solução de difícil concretização, a menos que o sujeito resolva, num belo dia, ir nadar nu para a amazónia (de preferência com a pixa a sangrar). Ou então, o nosso Zé Carlos terá de adquirir esta espécie por um qualquer meio dúbio e esperar que o sujeito tome um banho de imersão e adormeça. São muitas variáveis a ter em conta. É uma solução estúpida. Desculpa, Zé.
Solução n.º 2: gás pimenta nos boxers/cuecas do sujeito. Já experimentei e posso assegurar que arde (um bocadinho) e que a última coisa em que um gajo pensa é em foder. Quando muito, apetece é cortar o bacamarte.
Solução n.º 3 (e esta é a que me parece mais adequada): tenho um amigo que trabalha nas docas de Alcântara. Por € 500, aluga um contentor vazio. Sem perguntas. No dia 13 de cada mês, sai um barco da doca com destino incerto, carregando o referido contentor e o que quer que seja que se encontre dentro dele. Quem semeia ventos e o caralho-a-oitenta!...
Solução n.º 4: Mensagens subliminares. Zé, quando te cruzares com o sujeito, atira para o ar: “Pareceu-me ouvir mil ursos a rugir... Alguém tem ursos cá em casa?”; ou “Então? Estiveste a foder ou a esfolar uma vaca?”. Pode ser que ele perceba.
Solução n.º 5 (a minha preferida): gravar o rosnanço no telemóvel e configurar o dito cujo como toque predefinido. Não adianta de muito quanto à resolução da situação, mas é um óptimo quebra-gelo, sobretudo se o telemóvel tocar numa repartição de finanças.
Ok, Zé? E repara que as soluções aqui explanadas aplicam-se, mutatis mutandis, à falta de gosto musical do besugo. E não digas que vais daqui! – diz antes que vais dali.
P.S.: Eu reparei que o nosso Zé sublinhou o facto de “gostar do moço”. Nesse caso, há sempre a possibilidade de lhe dizer, educadamente: “Ou paras de grasnar enquanto fodes ou estoiro-te com os colhões com as minhas botas de biqueira de aço!”.