13 maio 2007

Disfuncionalismo público

É de enaltecer o esforço levado a cabo por este Governo para reduzir a burocracia nas instituições e serviços do Estado. Contudo, após uma “breve” deslocação à Conservatória do Registo Predial (entenda-se, “breve” como em “Breve História do Tempo” ou “A brevidade do cosmos” ou “A brevidade da Humanidade na História do Universo” – esse tipo de “breve”), apercebi-me, da pior forma, de que as medidas que têm vindo a ser tomadas são como os ambientadores que a minha mãe compra para disfarçar os peidos do meu pai. Se, à primeira vista e após os primeiros minutos, até parecem uma boa ideia, logo o primeiro peido trata de deitar por terra toda e qualquer esperança.
O que a minha mãe não entende é que, para se livrar dos peidos do meu pai, há que actuar não a jusante, mas a montante, ou seja, sobre a própria pessoa do meu pai. Do que adianta andar a espalhar desodorizante pela casa se, pouco tempo depois, logo se instala o mesmo fétido e arrepiante cheiro a leite coalhado misturado com ovos podres e produtos orgânicos em decomposição? O que a minha mãe tem que fazer é actuar sobre a origem do problema – alterando o tipo de alimentação do meu pai, confeccionando sabonetes perfumados com sabor a baunilha em todas as refeições, por exemplo. Se isso não resultar, há que, subtilmente, fazer ver a gravidade do problema ao “prevaricador”. Uma das soluções passa por lhe cagar na boca enquanto dorme (uma solução que pode resolver a maior parte dos problemas com que as sociedades contemporâneas se deparam). Fazê-lo “provar” do seu próprio remédio. Depressa se aperceberá de que é imperativo mudar de atitude. O mesmo se passa com as medidas do Governo. Por mais bem intencionadas que sejam, não servem para nos livrar da podridão que infecta os serviços públicos, e que tanto atrasa este país. Ora, de nada vale agilizar e promover a celeridade na administração pública se os funcionários que a servem continuam estúpidos, mal-educados, burros e, sobretudo, preguiçosos – tal qual os funcionários com que me deparei na passada sexta-feira na Conservatória. Neste caso, o problema está a jusante. Assim, lanço um repto ao Governo: se os funcionários públicos insistirem na mesma lentidão desesperante, há que lhes cagar na boca.

1 comentário:

Anónimo disse...

Em grande oh Avó! Que clareza de ideias... Todos atacassem os problemas com a rectidão escatológica com que tu, oh Avó, o fazes.
Aproveitando a deixa, deixa que te questione acerca de algo que me tem vindo a dar que pensar.
O meu colega de apartamento até é um bom rapazola. Tirando um ou outro pormenor estético nada lhe tenho a apontar. Excepção seja feita a dois comportamentos, tribais (?) que, de forma não pouco convicta, insiste em continuar a ter. Ora, o referido sujeito insiste em passar horas seguidas a escutar, como que em transe a mesma batida (musical?). Não fosse a dita batida sempre igual, ainda uma pessoa não dava por nada... já assim torna-se incomodativo e gerador de vontades segregadoras do mesmo. Para além disto, oh Avó, o mesmo tipo insiste em praticar durante a cópula com a respectiva consorte tribal, grunhidos que se ouvem pela casa toda e que não são, de todo em todo, associáveis ao acto copular que tanto nos fascina. Ora, é bom de ver que o status quo que aqui relato, em nada é propício ao fomento das relações de vizinhança nas sociedade hodiernas. Não te parece, oh Avó?
Diz-me agora de tua justiça. Que pode um pobre residente meeiro perante tal desafio fazer? Mas reitero-te, oh Avó, eu até gosto do moço...
Um abraço,

Zé Carlos


P.S. Na senda da dúvida que aqui te deixo, oh Avó, interpelo-te no sentido de implementares um consultório informal de apoio a problemas tão prosáicos como este.