05 dezembro 2007

O dom


Tenho um dom. É uma aptidão, se quisermos, sobrenatural, que me acompanha desde muito cedo. Pessoas há que conseguem adivinhar o futuro em búzios, outras vislumbram toda a vida de uma pessoa lendo as palmas das suas mãos, outras “lêem” entranhas de animais e outras ainda consultam cartas de tarôt para determinar o destino de todas aquelas pobres almas que acreditam que o seu fado influencia uma determinada sequência de pedaços de cartão numa mesa. Pois bem... Eu leio tetas. Não é fácil viver com tamanha responsabilidade – é um compromisso vitalício em prol do bem, que exige abnegação e uma mente incorruptível. Claro que, intimamente, estou a cagar-me para essa merda da abnegação. O que eu quero é apalpar tetas e uso-me do dom que tenho para tal. Se, durante o processo, fizer umas quantas gajas chorar em virtude de auspícios de um futuro menos bom, ou, pelo contrário, as fizer chorar de felicidade na expectativa de um futuro risonho, tanto melhor. É meio caminho andado para acabar a apalpar outros territórios e, em conformidade, as fazer chorar da cona.

Já sei o que o céptico leitor está a pensar... “Adivinhar o futuro em tetas?!... Humm... Não me convence. Costuma dizer-se que não há duas palmas da mão iguais... Serão as mamas assim tão distintas umas das outras?” Torna-se claro que o leitor só viu um par de tetas em toda a sua vida – e, muito provavelmente, já não se lembra... Parecendo que não, há toda uma panóplia de características mamárias que, conjugadas, auguram um futuro bom, um futuro mau, um futuro assim-assim, et cetera. Deste modo, a teta mirrada pode esperar por um destino cruel, de relações fracassadas e tristes; à teta pequenina resta-lhe um futuro de relações esporádicas, cabe-lhe o papel de diversão fortuita mas inconsequente; a teta avantajada estará com toda a certeza destinada a ser sugada por pequenas criaturas; a teta firme e redondinha vai receber boas notícias e uma bela carga de esperma não tarda nada, e por aí adiante.

Para o ano que se aproxima, já garanti a minha barraquinha em Vilar de Perdizes. Com alguma sorte, ainda apalpo as tetas da Maya – tetas boas, que terão de ser submetidas à luz macroscópica do olho da piça, para ver se lhe tiro o mau-olhado e aquele ar de puta fina. Sublinho: luz “MACROscópica”.

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